Boa Esperança do Norte – Em nossa cidade, até uma simples pastelada beneficente pode virar assunto de crônica – daquelas em que os bastidores dizem mais do que os discursos no microfone. Foi exatamente o que aconteceu no distrito da Água Limpa, onde um evento solidário acabou revelando mais sobre a política do que sobre a culinária.
Naquele dia, nosso olhar atento – talvez o do velho Passarinho, sempre presente mesmo quando finge que não está – percebeu que havia algo diferente no ar. O cheiro de pastel fritando era convidativo, mas o tempero principal vinha dos bastidores: o jogo de simbolismos e conveniências que move a política de Boa Esperança.
Entre os personagens da cena, destacou-se – ou tentou se destacar – um recém empossado vereador ainda pouco conhecido nas manchetes. Aproximou-se do microfone com certo nervosismo e falou tão baixo que poucos entenderam – talvez pelo som precário, talvez pela distração da plateia. Mesmo assim, sua imagem ao lado do prefeito e de outras autoridades não passou despercebida.
Em contraste, uma ausência chamou atenção: a de uma vereadora moradora influente da comunidade. Para muitos, aquilo não foi mera coincidência. Dias depois, o vereador assumiria uma vaga na Câmara, substituindo outro colega de bancada, afastado por “motivos pessoais”. Passarinho até quis espalhar uma fofoca sobre o caso, mas o cronista segurou sua língua: há histórias que dizem mais quando ficam fora dos holofotes.
Enquanto o mais novo vereador da cidade falava, o público parecia mais interessado nos pastéis – ou talvez nas bebidas. A ação beneficente, organizada por mulheres da cidade, tinha um objetivo legítimo. Mas quem escreve crônica costuma enxergar além do evidente. E o que se viu ali foi uma encenação política: um teatro em que o que se faz raramente coincide com o que se diz.
E como em toda boa tragicomédia, não faltou confusão. Em plena praça, sob o sol e entre frituras, aliados do prefeito se desentenderam. O que deveria ser um momento de união virou bate-boca – e, segundo Passarinho, resultaria em vias de fato. Os “bombeiros políticos” até tentaram controlar os danos e restaurar a imagem. Mas já era tarde. O pastel queimou – e com ele, a fachada de harmonia da gestão municipal.
No fim, a pastelada virou um grande pastelão político. E Boa Esperança, mais uma vez, nos ofereceu o retrato de sempre: boas intenções no convite, encenações no palco. E nós, leitores e cronistas, seguimos atentos. Porque, por aqui, o recheio quase sempre importa mais do que a crocância.
Cronista da Boa Esperança