Boa Esperança do Norte – Se vocês não se lembram, saímos do último episódio – o amigo Passarinho e este cronista – escapando de fininho de uma farmácia da cidade. A dona do estabelecimento, faminta de curiosidade, queria mais do que um remédio: estava obcecada em descobrir a identidade de nosso mensageiro diário.
“Eu preciso achar o passarinho!!! Eu preciso achar o passarinho!!!”
Nosso amigo plumado, que não mora em nosso ombro (obviamente), resolveu variar um pouco e sobrevoar a sede do município como um drone silencioso a serviço do Jornal da Boa Esperança. Depois de se exibir nas primeiras crônicas com sua gravata imaginária e um risinho mudo, o vigilante mensageiro das boas histórias decidiu exercitar as asas e saiu num rolê aleatório.
A esta altura, ou melhor, para não me sentir sozinho, acabei fazendo “um bico” (sem referência ao amigo Passarinho) na garupa da moto de um destemido vereador da cidade. Não me perguntem como fui “contratado” em prol da comunidade. Só sei que, onde há um buraco ou um atoleiro, lá está o vereador Sidiney Piratininga, “documentando a demanda” e cobrando solução da prefeitura. A responsabilidade, claro, quase sempre cai no colo da Secretaria Municipal de Obras, comandada pelo vice-prefeito Jair Obregão.
Obregão – e desta vez não foi um Passarinho que me contou – mantém uma “rivalidade não oficial” com Sidiney. O jogo é o seguinte: de um lado, Sidiney grava vídeos mostrando os buracos; do outro, Obregão grava vídeos mostrando os buracos sendo tampados. Quem acompanha as redes sociais de Boa Esperança do Norte sabe bem do que estou falando, né não?
Sidiney parece incansável! O ronco da motocicleta ecoava pelos caminhos esburacados, enquanto eu me segurava como podia nos solavancos das agora famosas estradas rurais do município. Até que, preocupado com o sumiço de meu amigo Passarinho, fiz sinal para que o vereador parasse. Ou melhor, que desse uma pausa na sua incansável missão de representar os “anseios da população”.
Foi quando algo no horizonte me chamou a atenção. Para um recém-chegado como este cronista, a cena era imponente: uma colhedeira avançava pelo campo. Meus amigos, era de encher os olhos! Um verdadeiro besourão verde, “enchendo o papo de grãos” em uma planície dourada, parecendo uma tela de Vincent van Gogh.
O vereador Sidiney, ainda com a sua moto ligada, explicou com ares de obviedade:
“Estamos em plena colheita, meu amigo!”
E assim, enquanto o grande besouro verde cortava o horizonte, a história deste primeiro rolê pelo agro ia se desenhando – entre buracos, atoleiros e o voo livre de um certo passarinho…
Cronista da Boa Esperança
