Boa Esperança do Norte – Quem acompanha nossas crônicas sabe: a “caixa postal” do Jornal da Boa Esperança vive cheia. E quando digo cheia, é de tudo um pouco – e sempre aparece mais.
Tem a sugestão de pauta que a comunidade cobra com insistência, porque o poder público não consegue resolver. Tem o comentário curioso de uma leitora: “Quem é o Passarinho? Onde ele mora exatamente? Quero levar uma torta de chocolate pra ele.” E até o áudio bem-humorado, voz grave, perguntando: “O cinegrafista do Jornal é solteiro? Passa o zap dele pra mim.”
Naturalmente, há muitas formas de responder – e corresponder – aos nossos leitores, admiradores e críticos. No dia a dia, porém, usamos principalmente dois gêneros jornalísticos: a notícia e a crônica.
A notícia, nosso carro-chefe, serve para informar sobre fatos reais, recentes e relevantes. É objetiva, direta e baseada em informações verificadas.
A crônica, por sua vez, reflete, comenta ou narra situações do cotidiano com liberdade, subjetividade e, muitas vezes, humor.
As duas podem falar do mesmo fato, mas com olhares diferentes.
Veja este exemplo hipotético: um morador fica ofendido porque sua esposa – que ocupa um cargo público – foi criticada pelo trabalho que desempenha.
Como notícia, a manchete poderia ser:
“Marido defende esposa após críticas ao seu trabalho.”
Como crônica, talvez soasse assim:
“A história do marido ofendido e sua briga com os fatos.”
Percebeu a diferença? A notícia relata o que aconteceu. A crônica interpreta e comenta. São dois pontos de vista complementares – e só não entende quem não quer ou quem anda com a vista curta.
Agora, troquemos de palco. Estamos num boteco da Boa Esperança. Entra em cena um personagem – digamos, menos polêmico que o tal “marido ofendido”. Redator? Escritor? Jornalista? Difícil dizer. O certo é que vive de escrever para jornal. E, de tanto lidar com letras e prazos, um dia decide inventar “a curiosa história de um boteco diferente de todos”, bem no coração da Avenida Brasil.
Atrás do balcão, o amigo taberneiro coloca diante dele uma garrafa trincando de gelada. O primeiro gole mal desceu e o tal profissional da imprensa já bateu a mão no balcão:
– Bão! Trincando de gelada!
Embalado pela satisfação – e talvez por alguma força misteriosa que só Freud poderia decifrar –, dispara em voz alta:
– Notícia informa sobre fatos reais. Crônica comenta, reflete ou narra o cotidiano!
O interior do boteco mergulha num silêncio súbito. Olhares curiosos se cruzam. Logo depois, todos voltam a fingir que nada aconteceu – inclusive esta crônica.
Cronista da Boa Esperança