Boa Esperança do Norte – Saibam que nossa coluna de crônicas tem sua própria caixa postal. As “notícias” chegam de diferentes formas, seja por nossa “caixinha” ou pelo carteiro mais inusitado da cidade – vestido de penas. Sim, ele mesmo: Passarinho, o mensageiro, sempre nos trazendo novidades.
Nosso confidente alado percorre cada canto da sede municipal e dos distritos, farejando segredos que, cedo ou tarde, vêm à tona. Pois bem, há pouco, o pequeno mensageiro pousou no meu ombro, ajeitou sua clássica gravata imaginária e, com um ar conspiratório, sussurrou:
– A cidade anda de um jeito…
Depositou um malote de correspondências no chão e, sem rodeios, completou:
– Um jeito… estranho!
– Acusação grave, meu caro – provoquei, fingindo inocência, só para ver onde aquilo ia dar.
O amigo de penas cinzentas, sempre teatral, fez um gesto misterioso e lançou uma bicada enigmática:
– Posso me fazer entendido?
Logo veríamos que ele se referia a algo muito específico. E, como se eu não precisasse de um passarinho contador de histórias para saber das novidades, tentei adivinhar:
– Não se fala em outra coisa em Boa Esperança…
O rumor do momento envolvia um servidor público “flagrado”, em plena luz do dia, esbravejando em uma estrada rural:
– Consertei esta estrada! Consertei esta estrada!
Como se o feito fosse um favor, não um dever.
– Lá pelos lados da Piratininga — pontuei.
Mas, curiosamente, o bichinho não pareceu interessado nesse caso. Tossiu de leve – coff, coff – e deu a entender que havia algo muito maior no ar.
Foi então que buscou uma carta no meio daquelas espalhadas no chão. Mudamos de assunto. Do servidor exaltado, passamos para algo ainda mais curioso.
– Meu caro cronista – suspirou Passarinho, num falso desabafo –, não é que temos, em nossa cidade, uma autoridade que se comporta como um menino mimado? Ganhou tudo, mas agora não sabe o que fazer com o que ganhou…
– Quê…? – minha cara foi ao chão, junto dos envelopes e pergaminhos.
E o amigo das missivas não parava de falar. Mas, antes que revelasse mais, seu celular tocou – sim, saibam que nosso Passarinho também tem celular! Uma ocorrência policial na Avenida Brasil exigia sua atenção imediata.
Antes de partir e se perder no horizonte mais bonito que se pode ver, o mensageiro hesitou, como se quisesse evitar dizer o óbvio:
– Meu caro cronista, Boa Esperança vive um dilema. Temos uma autoridade que conquistou o poder, mas age como quem não sabe o que fazer com o mesmo. E digo mais…
O vento levou o resto da frase. E Passarinho sumiu no céu, deixando para trás uma pergunta no ar:
Que história é essa…? Que autoridade é esta…?
Cronista da Boa Esperança