Boa Esperança do Norte – Hoje, o convite é para um exercício de imaginação: e se esta crônica não fosse escrita pelo autor de sempre? E se, só por hoje, quem assumisse a narrativa fosse o nosso velho conhecido Passarinho – ele mesmo, o mais falante e atento observador dos bastidores de Boa Esperança?
Dias atrás, o próprio cronista foi flagrado no Hommers Burg, um dos points mais movimentados da sede municipal. Lá estava ele, sentado à mesa, em boa companhia.
Segundo Passarinho, a moça tinha traços delicados, olhar inteligente e um jeito que lembrava uma especialista em direito. Durante a conversa, ela mais ouvia do que falava. O tema? Mistério total. Seria algo profissional? Uma entrevista jornalística? Ou um assunto subjetivo? Difícil saber. Mas o clima de cumplicidade era tão evidente que dispensava qualquer legenda.
Como já era de se esperar, Passarinho foi além na investigação. Descobriu que a moça era, de fato, advogada. Coincidência ou não, foi nesse mesmo dia que o mensageiro voltou a circular pelas rodas de conversa de Boa Esperança, depois de um tempo sumido.
Neste momento da história contada, o cronista oficial tentou retomar a palavra. Respirou fundo, esfregou as mãos e buscou reencontrar o fio da narrativa. Mas a tarefa não era fácil. Os pensamentos vinham embaralhados, entrecortados por comentários que pareciam sussurrados ao pé do ouvido. Era como se o próprio Passarinho estivesse pousado em seu ombro, soprando frases atrevidas e sugestões tentadoras.
E as fofocas da semana? Tem, claro. Sempre sobra alguma para o prefeito… Mas, por hoje, vamos deixar esse assunto no ar. Afinal, um pouco de mistério faz parte do charme.
Quando o cronista finalmente começava a organizar suas ideias, quem é que retorna à cena, com aquela pergunta provocadora?
– “Posso dizer mais ou não?”
Enquanto o fofoqueiro finge hesitar, e o cronista tenta disfarçar o constrangimento, a cidade segue seu curso. Mas o nosso conhecido mensageiro, como sempre, tem mais uma carta na manga.
– “Soube da confraternização da Câmara Municipal…?” – lança ele, com aquele tom de quem sabe bem mais do que revela.
Enquanto a cidade enfrenta seus problemas, o Legislativo dá sinais de vida… ou de festa? Antes que o cronista pudesse concluir, o Senhor de plumas alçou voo. Sumiu de cena, talvez em busca de novas informações fresquinhas.
E assim termina mais um capítulo de nossa coluna: com um mensageiro da fofoca partindo, como sempre, mais literário do que chegou.
Cronista da Boa Esperança