Boa Esperança do Norte – O cronista inicia com um sorriso discreto. Passou os últimos dias mergulhado em um evento cultural. Foi uma daquelas raras ocasiões em que a literatura toma conta da cidade. Um convite coletivo à reflexão, à criação e ao sentimento.
Mas, como toda boa história, essa também tem um enredo paralelo. O motivo da sua ausência desta coluna tem nome: Passarinho.
Enquanto o cronista espalhava poesia em uma cidade que ainda aprende a apreciar o que é esteticamente profundo, Passarinho – o mensageiro mais conhecido de Boa Esperança – literalmente alçou voo. O trocadilho é inevitável neste momento, mas também verdadeiro: ele sumiu de novo.
Pelas esquinas, cochichavam que o motivo era nobre, ou melhor, romântico: Passarinho estava feliz e apaixonado. Resultado? Faltou à crônica do Dia dos Namorados.
E é desse enredo que nasce a narrativa das desculpas.
Dias depois, Passarinho reapareceu. Falava como quem acabara de sair da prisão. Sem pressa, explicou que estava envolvido em questões judiciais. O motivo? Atraso no pagamento de pensão alimentícia.
Seria verdade? Ou apenas mais uma das suas histórias?
Durante mais de dez dias ou mais, o cronista ficou sem fonte e, consequentemente, sem assunto. As cobranças chegaram à redação. As más-línguas trataram de preencher o silêncio com teorias:
- Passarinho fugiu para evitar a Justiça.
- Com algum dinheiro no bolso, apostou que ninguém sentiria sua falta.
- Mas a Justiça foi clara: se não pagou, vai preso.
Simples assim.
Sem melhor alternativa, o cronista encontrou em Passarinho o bode expiatório ideal. Afinal, ele seria verdadeiro responsável pelo silêncio, pelas páginas em branco e pela falta de inspiração.
Nesse ponto, a crônica ganhou ares de fábula.
Inspirado pelo próprio personagem, o cronista imaginou-se sobrevoando o município mais jovem do Brasil. Enquanto isso, Passarinho, com o coração batendo mais forte por um novo amor, ganhou forma humana.
No fim, foram tantas as desculpas para não escrever que o Passarinho decidiu tirar uns dias de férias das fofocas.
Despedindo-se com um clássico poema de um famoso autor gaúcho, deixando no ar sua mensagem de resistência e leveza:
“Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu, passarinho!”
Cronista da Boa Esperança