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Afeto e superação: a história de Grasiele, a mãe que não desiste
Imagem: Arquivo pessoal

Afeto e superação: a história de Grasiele, uma mãe que não desiste

18/05/2025

Boa Esperança do Norte – Na série especial “Histórias inspiradoras de mulheres que vivem na cidade mais jovem do Brasil”, publicada pelo Jornal da Boa Esperança durante o mês das mães, conhecemos hoje a trajetória de Grasiele Eugislaine Granjeiro, de 40 anos. Moradora da sede do município, ela é mãe de quatro filhos — dois deles diagnosticados com autismo — e trabalha como professora da rede municipal de ensino.

Sua história é marcada por desafios, mudanças e superação. Mas também é cheia de amor, coragem e aprendizado. Ao conhecer a jornada de Grasiele, a gente passa a entender – ou perceber melhor – como o papel de uma mãe vai muito além do cuidado com os filhos. É também sobre construir vínculos, ensinar com o exemplo e enfrentar as dificuldades com determinação.

A mãe Grasiele, com os quatro filhos (Imagem: Arquivo pessoal)

Infância difícil, raízes instáveis

Grasiele nasceu em Nova Brasilândia, a cerca de 200 quilômetros de Cuiabá, e passou a infância mudando de cidade em cidade. “Nunca criamos raízes em um só lugar”, conta. Ainda criança, foi morar com os avós em Cuiabá e depois, aos 12 anos, foi viver com a mãe e o padrasto em Campo Novo do Parecis. A convivência, no entanto, era difícil. “O jeito que ele [o padrasto] me tratava era ruim, então foi uma fase muito complicada”, relembra.

Aos 16 anos, começou a namorar. O relacionamento não foi bem aceito pela mãe, que acabou expulsando-a de casa. Acolhida pela família do namorado, Grasiele afirma com emoção: “Eles fizeram por mim o que minha família de sangue nunca fez”.

A chegada da maternidade

Após o fim desse namoro, Grasiele conheceu o pai de sua primeira filha. Com 7 meses de gravidez, mudou-se com ele para Boa Esperança do Norte, onde hoje vive. “Foi quando conheci o verdadeiro significado do amor”, diz ela ao lembrar do nascimento de sua primogênita, Aysla Gabriley. “Antes dela, eu não sabia o que era amor de verdade.”

O casamento durou 8 anos, e apesar da separação, Grasiele mantém contato com o ex-marido por causa da filha. Um ano depois, conheceu Rafael, com quem é casada há 13 anos e tem mais três filhos: Lorenzo Gabriel, de 11 anos; Lavinia Rafaella, de 8 anos; e Gael Henrique, de 5 anos.

Maternidade atípica: aprendizados com o autismo

Dois dos filhos de Grasiele, Lorenzo e Gael, foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A descoberta transformou sua vida — e a maneira como ela vê o mundo.

Com Lorenzo, os primeiros sinais surgiram cedo. “Ele não comia na escola, preferia ficar sozinho, organizava os brinquedos em fileiras”, conta. Ao buscar ajuda médica, Grasiele ouviu pela primeira vez sobre o autismo. No começo, o pai resistiu ao diagnóstico, mas com o tempo, a realidade falou mais alto. “Foi doloroso ouvir, mas era preciso aceitar para poder ajudar o nosso filho.”

Já com Gael, o processo foi diferente. Mesmo tendo feito laqueadura, Grasiele engravidou novamente, de forma inesperada. E, desde o primeiro ano de vida, percebeu que os sinais dele eram ainda mais evidentes que os do irmão. Gael só começou a andar perto dos dois anos e, até hoje, é não verbal, ou seja, não se comunica por meio da fala.

Ambos recebem acompanhamento e terapias. Grasiele e o marido fazem o possível para garantir que os filhos tenham os cuidados necessários. “É uma correria diária que só quem vive sabe. Acordo às 4h30 da manhã para malhar e organizar tudo, porque sei que meu tempo com eles é precioso”, explica.

Mãe Grasiele em momento de afeto com filho (Imagem: Arquivo pessoal)

Apoio da comunidade e do poder público

Grasiele destaca o apoio do poder público em Boa Esperança do Norte como essencial na sua caminhada. “No início foi difícil, mas sempre que procurei ajuda, fui atendida com respeito e atenção”, afirma, mencionando servidores como Zé e Olenil, que a auxiliaram em momentos importantes.

Hoje, Lorenzo estuda na rede estadual, onde, segundo a mãe, é bem acolhido por professores e equipe gestora. Gael está na rede municipal, com o mesmo tipo de apoio. “Vejo carinho e dedicação nas escolas, e isso faz toda a diferença”, diz.

Além disso, ela participa do Grupo Integrar, formado por mães atípicas da cidade. Para Grasiele, essa rede de apoio é essencial. “Ajuda a gente a trocar experiências e se sentir menos sozinha.”

Enfrentar o preconceito com amor e informação

Apesar dos avanços, Grasiele ainda sente o preconceito da sociedade, principalmente em espaços públicos. “Tem gente que não entende, que julga, que olha com estranheza. Mas nossos filhos são como qualquer outra criança. Precisam de amor, respeito e acolhimento.”

Ela acredita que o conhecimento e o amor são os maiores aliados das famílias atípicas. “Não tenha medo do diagnóstico. Conheça seu filho, entenda as necessidades dele. O melhor remédio é o amor que vem de casa”, orienta.

Um sonho de mãe

Grasiele tem um desejo simples, mas profundo: “Meu sonho é ouvir o Gael dizendo que me ama”. Mesmo com tantos desafios, ela se sente realizada como mãe. “Nunca tive uma família de verdade. Cresci sem ouvir ‘eu te amo’. Mas hoje, tudo o que faço é pelos meus filhos. Luto todos os dias para que eles tenham uma vida melhor.”

Com fé, força e afeto, Grasiele representa muitas mães brasileiras que enfrentam a maternidade com coragem — e que ensinam, todos os dias, que o amor é o maior aprendizado da vida.

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Renato de Souza

Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande, Renato de Souza é o jornalista responsável pelo Jornal da Boa Esperança (DRT: 50317/SP). Com ampla experiência em jornalismo digital, rádio e assessoria de comunicação, é também escritor e editor, autor de seis livros publicados de forma independente. Renato é pesquisador em Literatura, com interesse especial pelas crônicas de Plínio Marcos, e atua como produtor cultural e professor, dedicando-se à promoção da escrita criativa e do diálogo entre literatura e sociedade.

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