Mato Grosso – Uma nova regra sobre irrigação, aprovada pelo Congresso, pode aumentar o preço do feijão e de outros alimentos básicos. A Aprofir, associação que reúne produtores de feijão e irrigantes de Mato Grosso, fez esse alerta.
Segundo os produtores, as mudanças podem encarecer a produção e afetar o bolso do consumidor.
Governo muda o horário de irrigação com desconto
Antes, os agricultores podiam irrigar com desconto de energia entre 21h30 e 6h. No entanto, a Medida Provisória 1300/2025 tirou esse horário fixo. Agora, as distribuidoras de energia decidem o período de desconto, seguindo regras da Aneel.
De acordo com Hugo Garcia, presidente da Aprofir, isso pode obrigar os agricultores a irrigarem durante o dia, entre 10h e 16h. Esse é justamente o horário mais quente, o que aumenta a evaporação e reduz a eficiência.
“Se irrigarmos nesse horário, vamos gastar muito mais água. Isso aumenta os custos, prejudica o meio ambiente e pode até cozinhar a planta no sol do Centro-Oeste”, afirmou Garcia.
Custo maior no campo afeta a mesa da população
Garcia também explicou que o custo da energia mais alto chega direto ao consumidor.
“Quanto mais cara fica a energia, mais caro fica o feijão e mais cara fica a cesta básica”, disse.
Além disso, o setor enfrenta outro problema antigo: a falta de repasses federais. Desde 1988, quase 20% do orçamento previsto para irrigação no Centro-Oeste não foi aplicado. Dessa forma, segundo cálculos da Aprofir, o prejuízo já passa de R$ 5 bilhões.
Por isso, os produtores afirmam que o governo precisa agir com urgência para evitar mais perdas no campo.
Produtores criticam falta de investimentos da Energisa
Outro ponto levantado por Hugo Garcia foi a atuação da Energisa. Segundo ele, a empresa renovou sua concessão por mais de 30 anos, mas não apresentou um plano de investimento adequado.
Assim, os produtores continuam sem apoio técnico e com custos cada vez maiores.
Além do impacto financeiro, essa situação desanima quem vive da agricultura. “O pequeno produtor é o que mais sofre, porque depende da irrigação para plantar e colher”, comentou Garcia.
Mato Grosso avança nas exportações, apesar dos desafios
Mesmo com todos esses desafios, o setor segue avançando. Mato Grosso já exporta feijão-de-corda, gergelim, amendoim, chia e alpiste. Os principais compradores são países da Ásia, como China e Índia.
Nesta semana, dois técnicos da Aprofir viajaram para a China. O objetivo é firmar uma parceria com uma academia de pesquisa em gergelim e trazer novas tecnologias para o campo.
“Hoje Mato Grosso é o fiel da balança na produção nacional de feijão e pode se tornar referência também em outras culturas especiais”, concluiu Garcia.
Por fim, o setor acredita que, com diálogo e investimento, será possível equilibrar os custos e manter a produção forte em todo o estado.

