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Crônica da crise em Boa Esperança (e da falta de remédios controlados)
Imagem: Reprodução

Crônica da crise em Boa Esperança (e da falta de remédios controlados)

22/05/2025

Boa Esperança do Norte – Dizem por aí que as farmácias da sede do município amanheceram lotadas nesta quinta-feira. Parecia dia de Black Friday, mas o motivo era outro: remédios controlados. A procura aumentou “exponencialmente”, segundo um amigo bem informado – e de plumas elegantes, diga-se. Tudo por causa de manchetes que pipocaram na noite anterior… Sim, caro leitor, a economia de Boa Esperança girou, neste dia, ao redor de calmantes, tarjas pretas e uma boa dose de caos político.

Foi o curioso cruzamento entre farmácia e Câmara Municipal. Vida social agitada, discursos desastrosos, e o povo tentando entender se eram mesmo “vossas excelências” ou apenas atores de um teatro de absurdos. Este cronista, devidamente representado por seu “correspondente para assuntos indiscretos e burburinhos”, esteve presente no palco da oitava sessão ordinária do ano. E o que ele viu – ou melhor, viveu – merece ser contado.

Lembrou uma daquelas passagens literárias que misturam tragédia e ironia. Não lembro o nome do livro, mas o capítulo ficou marcado. Um episódio escrito, sabe-se lá por qual inspiração, descuido ou puro delírio. E os elementos da narrativa – ah, os bons professores sempre nos alertam para eles – estavam todos lá, disfarçados na realidade: personagens, tempo, espaço, enredo, tema e narrador. Tudo certinho. Ou quase.

Teve até citação autoritária e comportamento machista, com dois “quetais” se juntando para constranger uma mulher que discursava. Uma cena feia. Daquelas que se tenta esquecer, mas não se consegue. E aí voltamos para a farmácia, onde a fila crescia.

“Próximo!”

Senti um leve toque no ombro. Era a minha vez. A fila que parecia eterna, finalmente andou. Cheguei ao balcão e, meio ansioso, fui direto ao ponto:

– Quero um remédio controlado. Tem?

A atendente – simpática, prática e daquelas que a gente reconhece logo como uma “boaesperancense raiz” – nem pensou duas vezes:

– Senhor, infelizmente estamos em falta – respondeu, virando-se para checar as horas num relógio imaginário pregado na parede.

Eram dez da manhã. Dez da manhã e o estoque já havia evaporado.

– Não tem mesmo? – insisti. – Já passei nas concorrentes.

Ela sorriu, meio conformada:

– Pois é. Levaram tudo logo cedo. Primeira hora da manhã. Acredita?

Acreditar, eu acreditava. Só não sabia se ria ou se chorava. No fim, fizemos as duas coisas. Rimos da situação – ela e eu – como quem entende a loucura dos dias atuais. Saí da farmácia melhor do que entrei. Não levei o remédio, mas tive a certeza: aquela moça era fiel leitora do Jornal da Boa Esperança.

Cronista da Boa Esperança

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Renato de Souza

Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande, Renato de Souza é o jornalista responsável pelo Jornal da Boa Esperança (DRT: 50317/SP). Com ampla experiência em jornalismo digital, rádio e assessoria de comunicação, é também escritor e editor, autor de seis livros publicados de forma independente. Renato é pesquisador em Literatura, com interesse especial pelas crônicas de Plínio Marcos, e atua como produtor cultural e professor, dedicando-se à promoção da escrita criativa e do diálogo entre literatura e sociedade.

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