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Boa Esperança do Norte: 100 dias de descobertas, desafios e silêncios

14/04/2025

Boa Esperança do NorteO município mais jovem do Brasil completou seus primeiros 100 dias de história político administrativa na primeira quinzena de abril. Oficialmente instalada em 1º de janeiro de 2025, a cidade vive uma fase intensa de descobertas e adaptações. Entre simbolismos e ações pontuais, o dia a dia da nova administração tem sido marcado por desafios estruturais, burocráticos e políticos.

O tempo de vida político administrativa da cidade é praticamente o mesmo do Jornal da Boa Esperança. Com dezenas de reportagens publicadas desde o primeiro dia útil do ano, consideramos que temos base suficiente para contribuir com uma reflexão sobre a realidade social, econômica e institucional deste município em formação. Por isso, fomos além da cobertura diária para produzir esta reportagem especial.

Nos últimos dias, buscamos ouvir os principais personagens deste novo capítulo do município mais novo Brasil. Todas as autoridades foram contatadas e receberam prazo adequado para responder aos pedidos de entrevista. Encerrado o tempo de apuração, dois grupos se destacaram: os que aceitaram prestar depoimento, e os que preferiram o silêncio.

Entre os que falaram conosco estão os vereadores da Bancada da Esperança, Joana Darc de Azevedo e Izaqueu de Andrade, além do secretário municipal de Saúde, Silvio Stolfo, e o titular da Educação, Itamar Porto. Por outro lado, importantes nomes da gestão optaram por não se manifestar, como o prefeito Calebe Francio, o vice-prefeito Jair Obregão, o secretário de Finanças e Planejamento, André Fenske, e o vereador Olenil Lino.

Além dos representantes políticos, conversamos com moradores da sede e dos distritos. Muitos pediram anonimato — algo compreensível em uma cidade pequena, onde a exposição ainda causa receio. Diferente das autoridades, que por dever de função deveriam prestar contas à população, a quem representamos neste trabalho jornalístico.

Um começo travado pela burocracia

Logo nos primeiros dias da gestão Calebe Francio e Jair Obregão, havia grande expectativa por avanços rápidos na construção da estrutura administrativa. No entanto, os primeiros meses foram marcados por obstáculos básicos: a falta de CNPJ ativo, a demora na liberação do CEP e a dificuldade de acesso a recursos inviabilizaram procedimentos essenciais da máquina pública.

O secretário de Saúde, Silvio Stolfo, relatou que, apesar de alguns avanços — como o aumento no número de atendimentos nos distritos de Água Limpa e Piratininga —, a falta de estrutura e a burocracia emperraram o ritmo de trabalho. “Aumentamos o número de consultas”, celebrou. Mas reconheceu que limitações fora de seu alcance comprometeram parte das ações planejadas.

A sede provisória da Prefeitura, na Rua dos Antúrios, abriga um funcionamento ainda improvisado. Secretarias como Educação, Saúde, Obras e Administração já foram criadas, mas muitas acumulam funções. Há casos de secretários responsáveis por até três pastas — um reflexo da sobrecarga e da escassez de pessoal.

Relações políticas frágeis e transição conturbada

Os primeiros desentendimentos políticos surgiram ainda na transição, entre outubro e dezembro de 2024. Apesar de ter participado de reuniões com representantes de Nova Ubiratã e Sorriso — municípios de origem do novo território —, o então prefeito eleito foi criticado pela falta de articulação. O prefeito Neninho, de Nova Ubiratã, foi direto: chamou o processo de tímido. Já Calebe alegou que, antes da posse, não tinha poder de decisão.

Com a instalação oficial do município, pouca coisa mudou. Nova Ubiratã manteve distância, e Sorriso ainda responde por parte das responsabilidades administrativas, especialmente na educação. Boa Esperança do Norte já possui Secretaria Municipal de Educação, mas salários, merenda e transporte escolar continuam sob responsabilidade de Sorriso. A dependência financeira levanta dúvidas sobre o planejamento da municipalização do ensino. Itamar Porto, titular da Educação, contudo, avalia como positiva a sua gestão até o momento, mesmo com os desafios postos.

Na saúde, houve pequenos avanços, como a contratação de médicos para Água Limpa. Mas a estrutura é frágil: basta um imprevisto e os atendimentos são suspensos, revelando a vulnerabilidade do sistema.

Infraestrutura e lixo: problemas urgentes

Enquanto isso, os problemas de infraestrutura se acumulam. A zona urbana foi duramente afetada pelas chuvas do início do ano. Ruas sem pavimentação tornaram-se intransitáveis, gerando críticas nas redes sociais. Nas estradas vicinais, o intenso tráfego de caminhões durante a safra agravou a precariedade. Na Câmara, o tema gerou embates: vereadores da base destacaram o esforço da Secretaria de Obras mesmo com poucos recursos, enquanto a oposição cobrou planejamento.

Caminhão atolado em estrada rural em Piratininga
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Sequência de atoleiros em estradas rurais de Boa Esperança

Outro ponto crítico é o destino do lixo. Boa Esperança ainda não tem solução adequada para os resíduos urbanos. Em Piratininga, o lixão a céu aberto, próximo a residências, virou motivo de protestos. Até agora, a Prefeitura não apresentou um plano de destinação final.

Câmara: altos custos e embates iniciais

No Legislativo, os trabalhos começaram com a aprovação dos salários do Executivo e dos próprios vereadores, o que colocou Boa Esperança entre os municípios com maior custo parlamentar de Mato Grosso. A medida gerou controvérsia, mas não impediu um início colaborativo. Em tempo recorde, foram aprovadas a Lei Orgânica Municipal, a Lei Orçamentária e outras normas básicas.

Esse clima de conciliação, porém, durou pouco. Discussões acaloradas surgiram sobre temas como a data comemorativa do município e, mais recentemente, um projeto de lei polêmico que autoriza o Executivo a abrir estradas rurais por decreto, sem o devido aval do Legislativo — aprovado por 5 votos a 4.

A ausência do prefeito Calebe Francio nos espaços públicos também virou pauta. Figura presente durante a campanha, ele foi desaparecendo dos eventos oficiais e da Câmara. Sua falta de protagonismo tem sido criticada pela oposição, que reclama da escassez de projetos encaminhados pelo Executivo.

Identidade em construção

Apesar dos tropeços, a cidade também teve momentos de celebração. Os campeonatos de futebol nos distritos e na sede reuniram moradores e mostraram o valor da cultura local como ferramenta de união. Simples, mas simbólicos, esses eventos reforçam o desejo coletivo de construir uma identidade própria.

Ao completar 100 dias, Boa Esperança do Norte ainda busca se definir. Há entusiasmo e esperança por parte da população, mas também limitações reais: falta estrutura, planejamento, recursos e presença política. Os próximos meses dirão se o município conseguirá ir além do discurso inaugural e iniciar, de fato, uma gestão transformadora.

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Renato de Souza

Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande, Renato de Souza é o jornalista responsável pelo Jornal da Boa Esperança (DRT: 50317/SP). Com ampla experiência em jornalismo digital, rádio e assessoria de comunicação, é também escritor e editor, autor de seis livros publicados de forma independente. Renato é pesquisador em Literatura, com interesse especial pelas crônicas de Plínio Marcos, e atua como produtor cultural e professor, dedicando-se à promoção da escrita criativa e do diálogo entre literatura e sociedade.

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