Boa Esperança do Norte – Outro dia, Passarinho e eu conversávamos sobre uma reportagem publicada por um dos grandes jornais da capital. A jornalista passou dois dias aqui, no município mais jovem do Brasil. Conversou com moradores, ouviu histórias, tirou fotos e, inclusive, foi recebida por nosso “grande líder” – aquele que, em geral, só abre a porta para a chamada “mídia amiga”.
De volta a Cuiabá, a repórter sentou-se à frente de seu computador e escreveu sua visão sobre os primeiros meses de gestão político administrativa na nossa cidade. Como não é daqui, nem de “dentro da casa”, ela olhou de fora – e isso pode ser bom ou ruim, dependendo do ponto de vista. O fato é que o texto foi publicado no dia 6 de abril e logo causou um verdadeiro rebuliço.
Por quê? Porque a repórter pintou um retrato da cidade que muitos prefeririam manter fora de vista. Para explicar, uso uma imagem simples: imagine um fusca colidindo com a traseira de um caminhão. Não importa quem é quem nesse retrato de tragédia – o que importa é o impacto, o susto e o desconforto de presenciar a cena.
Autoridades municipais reagiram com indignação. Houve quem criticasse o tal “jornal estrangeiro”, como se fosse ele o culpado pelos nossos próprios buracos – literais e figurados.
Teve quem dissesse que a reportagem “pareceu dizer que estamos pedindo ajuda”. Um vereador comentou que “a cidade não é tudo isso que foi falado”. Outro foi mais direto: chamou a jornalista de “leviana”, como se expor os problemas da cidade fosse um ato de traição, uma afronta. Mas, convenhamos, Boa Esperança precisa, sim, de ajuda. E muitas soluções virão de fora – com apoio, parcerias e vontade coletiva. Como sussurrou um passarinho amigo: “Reconhecer os problemas é o primeiro passo para superá-los.”
Talvez o que tenha incomodado mesmo foi o espelho que a reportagem colocou diante de todos nós.
A matéria destacou o que já sabemos – e sentimos na pele: ruas sem asfalto, saneamento precário nos distritos, falta de moradia digna, estradas rurais esburacadas e praticamente intransitáveis após as chuvas.
Ao concluir esta crônica, lembro de um velho bordão da televisão brasileira, que adapto com carinho: “O jornalismo às vezes aumenta, mas não inventa.” E se já ouvimos os poderosos, agora queremos escutar o povo.
Como está, de verdade, a vida em Boa Esperança do Norte?
A palavra está com vocês.
Cronista da Boa Esperança